INDENIZAÇÃO NÃO BASTA

Amarildo, João Alberto, Bernadete, Bryan, Miguel, Ágatha, Marielle, Evaldo, Breonna, Floyd. Todos negros, todas negras. Todos mortos. Quanto vale a vida de uma pessoa negra?

Em 2021, um supermercado de Porto Alegre pagou R$ 115 milhões para a reparação de danos morais comunitários pela morte de João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, que foi espancado e morto em suas dependências na véspera do dia da Consciência Negra em 2020.

Voltando para os dias atuais, menos de uma semana após a morte de Mãe Bernadete Pacífico, iyalorixá e líder quilombola brutalmente assassinada em sua residência no Quilombo Pitanga dos Palmares, na região metropolitana de Salvador, uma entidade já ingressou com ação civil pública por danos morais coletivos pela sua morte. O valor da indenização requerido é de R$ 143 milhões.

Quanto custa para a esposa de João Alberto a dor pela sua ausência? Quantos reais os netos e filhos de Bernadete Pacífico julgam ser suficientes para aplacar a saudade e a dor pela perda da avó e da mãe? Qual a indenização justa a ser paga pelo assassinato de uma iyalorixá? É possível precificar saberes e tradição? Impunidade dos assassinos, leniência do Estado. Quanto valem?

A Renafro Saúde repudia veementemente movimentos que precificam nossos corpos pretos e pardos. Não aceitamos que haja indenizações e esquecimentos. Exigimos justiça e respeito! Não aceitamos mais que entoem que “a carne mais barata do planeta é a carne negra”. Queremos viver!

Somente para lembrar, a mesma rede de supermercados que pagou R$ 115 milhões pelo corpo do homem negro também pagou R$ 1 milhão a título de indenização à sociedade pela morte da cadela Manchinha, assassinada por seu segurança em 2019. Para esta rede de supermercados a vida de um homem negro vale menos que a de 150 cachorros.

Renafro Saúde.

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